sábado, 12 de fevereiro de 2011

CARVÃO

Compilado no meu ser carne e osso
Às vezes pedra, às vezes gelo
Sem segredos
Rústico, cru, nu
No espelho
Procurando desejos, amargurando medos
Vivendo intrinsecamente cada momento posto
Cada sorriso no rosto, rugas do tempo
Olhar no horizonte, momento inerte
Sentado a frente da Catedral,
Olhando o céu, mapa astral
Vidas
Passadas
Presentes
Futuras
De frente ao espelho Lágrimas, poemas
Amor verdadeiro
Sem tabuleiros, sem xadrez
Sem piña colada, sem embriaguez
Apenas a vida
Real
Chegada ou despedida
Compilado no meu ser
Misturado a estação
Sou do ano do macaco
Não do ano do cão
E o que é o passado?
Se não um espelho quebrado
Que se junta para entender o presente
E quem sabe garantir o futuro
Compilado em meu ser carne e osso
Cinzas de agosto...

MAURO ROCHA 31/01/2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

TORRES ENTRE CASTELOS

Alguém me falou de Nina Simone
O vento gritou seu nome
Nas montanhas, nos rios
Nos templos tocam os sinos

Pulei no abismo urbano
Entre o céu e o inferno
Existem humanos
Existem outros planos...

Anjos e demônios
Dançam a luz do luar
Palavras, gestos, andar
Beijos esquentam corpos

Copos, roupas, o chão
Olhos que brilham na escuridão
Espelhos de carne
O desejo que arde

No abismo profundo
Meus olhos no mundo
Minha tristeza
O sol e a lua

Meus demônios andam na rua
Meus anjos observam tudo
Chuva clara, calafrio
Ando no fio... Da vida...

Moderna
A palavra que edifico
Eterna
A música, o vazio...

O vento gritou teu nome
Na onda que arrebenta
Escuto no choro Nina Simone
Da solidão que desatina

Quando tocam os sinos
Quando a lua vai partindo
E o sol acorda os urbanos
Sou apenas um corpo estendido...

MAURO ROCHA 25/01/2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

RIOS VERMELHOS

Cortei os pulsos numa noite gelada
O sangue quente escorria pela escada
Eu não entendia a vida
E minha morte parecia fantasia

Sei que vão me chamar de covarde e louco
Mas ninguém sabe o quanto andei nos esgotos
Sei que isso não é desculpa
Mas nunca me disseram qual era minha culpa

Amei platonicamente
E quando fui ser racional
Disseram que eu era um demente
Que amor não é razão e sim emocional

O sangue pingando aos pouco coagulava
A vida às vezes não é observada
Cortei os pulsos do amor doentio,
Egoísta que me deixava no quarto escuro

Cortei a noite costurei o dia
Acordei zonzo e sem direção
O amor transformou minhas cinzas
Acordei escutando o bater de um coração

Escrevo nos cantos, faço poesia
Cravada no corpo da canção
Minha morte não foi nada
Nem de longe foi observada

Chorei como se chora
Queimei como se queima
Sigo na estrada e conto a história
De como sobrevivi ao amor que mata

Cortei os pulsos
Morri de verdade
Agora sigo no mundo
Para pagar os meus pecados...

MAURO ROCHA 31/01/2011