segunda-feira, 31 de maio de 2010

ESTRELAS

A boca que descobre o beijo
Descobre logo o desejo
E nas madrugadas constantes
A face da lua nunca é minguante...

A boca que descobre o beijo
Descobre logo o desejo
Que de tão íntimo
É proibido as meretrizes

E o que falar do beijo
Que mistura a língua
O beijo definitivo
Com os olhos fechados e o infinito...

Que tudo vira estrela
E logo, transforma-se em constelação
O beijo amado ultrapassa a paixão?
O beijo safado percorre o corpo então?

Beijo é beijo
O que muda é a intenção
E depois do beijo?
O mundo gira sem razão...

MAURO ROCHA 20/05/2010

sábado, 29 de maio de 2010

PLURAIS

Prego: pregos!
Como já dizia Raul Seixas
E a gaveta bagunçada
E o dia passando na frente das calçadas

Tua fotografia no porta-retrato segura a parede
Lanço torpedos seguindo a tecnologia
Procuro planícies perdidas no horizonte
Na verdade me procuro entre o sapato e a meia

Conto as estrelas em dias ímpares
Na intenção de ver um disco voador
Na verdade controles remotos não são interessantes
Por isso jogo palavras no ventilador

Não sei quantos dias faltam para acabar o ano
Mas a folha em branco me traz um espanto
Rabisco sem simetria pontos convexo
Na verdade sento a mesa, bebo e converso

Nada tão natural como ser humano
Cheio de requisitos e falha
Cheio de trejeito e pano
Cada um na sua, procurando a metade, do outro lado da rua


Prego: pregos!
Como já dizia Raul Seixas
E a gaveta bagunçada
Meias, roupas, fotografias...


MAURO ROCHA 29/05/2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

LAGARTO DE PÉ

Arara, jabuti, jacaré
Iracema cadê meu sapato de jacaré
lagarto de pé
Que eu vou ao boteco do Zé
Tomar uma para esquecer
Aquela mulher que me fez sofrer.
Iracema vê se não demora
Que eu ainda vou embora,
Atravessar o sertão, chegar em Manaus,
Ver a chuva cair...
Quem sabe eu trago uns pingos pra ti
E esse chão que corta o Ceará.
Desse jeito não dá,
Iracema cadê meu chapéu de palha,
Folha de carnaúba,
O país está na berlinda, a chuva atrapalha,
A seca maltrata,
E tem prédio caindo...
Sem falar no resto,
Outro dia eu protesto.
Onde está meu sapato mulher!
Lagarto e pé,
Que meu caminho é longo,
Mas,antes vou ao boteco do Zé
Para tomar uma e vê se encontro alguém,
Quem sabe um novo bem...
Arara,jabuti,
Iracema um beijo pra ti,
Aprender a escrever com giz
Levar minha cultura assim
Abrir meu coração
E um dia voltar pró meu sertão
Com meu chapéu de palha
Sapato de jacaré
Lagarto de pé
Iracema cadê!
Iracema Mulher!
Assim eu não vou no Zé!

03/10/2007 MAURO ROCHA

terça-feira, 25 de maio de 2010

DO SOL, A LUA

Mira-me a deriva
Viva língua viva
E a flor no campo
E no canto, canto, conto

Tira-me a vida
Pobre, rica, vida
E a flor noturna
E o ato, teatro, fecha a cortina

Mira-me teus olhos
O brilho do sol na lua serena
E a flor no jardim
E na varanda o cheiro de jasmim

Mira-me de novo
Meus lábios em teus lábios
E a flor no quadro da janela
E no canto, canto, conto meus segredos a ela...


MAURO ROCHA 27/04/2010

sábado, 22 de maio de 2010

VAI VENTO VEM

Vai vento...
Espalha a folha
Espalha a semente
Vem frio de repente...

Vai vento...
Levanta a saia
Mexe com o cabelo
Varre a praça...

Vai vento...
Brinca o dia inteiro
Para como se não tivesse nada
Vira ventania, meu camarada!

Vai vento..
Assoviando de norte a sul
Junta nuvens
Faz ondas do mar azul...

Vai vento...
Moleque travesso
Seca a roupa no varal
Brinca de assombração no canavial...

Vai vento...
Espalha os poemas
Mistura as palavras
E sem ninguém vê dê muitas risadas...

MAURO ROCHA 19/05/2009

quinta-feira, 20 de maio de 2010

PERGAMINHO

Tec, tec,tec,tec,tec,tec,tec,tec
E a máquina começa a escrever
Tec, tac,,tec,tac,tec,tec,tac,tec,tac
E a máquina começa a correr
E assim o texto é composto
Vira homem
Vira mulher
Vira rosto
Num dia de sol
Num dia de chuva
Até mesmo comendo uva...

MAURO ROCHA 20/05/2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

SOPRO

A morte que aqui me trouxe
Um dia vai me levar
Como num quadro de Dalí
A vida retorcida vai além do mar

Atravesso o dia entre o café
E a palavra liquidificada
Como num quadro de Renoir
A vida impressiona

A morte só cala
Quando o sentimento é esquecido
Sei que morto não fala (será?)
Mas a saudade é a lembrança que o mantem vivo

Muitas vezes estou morto
E pela cidade ando como vivo
Muitas vezes estou vivo
Apesar do desgosto, da lágriam no rosto

Tudo parece morto
Com a vida retorcida
Com a vida que não soma
Mas sempre há uma sombra, um sopro

E a morte que aqui me trouxe
Também me disse
Não se sinta morto
Que a vida existe...

MAURO ROCHA 29/04/2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

INSTINTO DE ANIMAL

E você olharia mais uma vez
Mas o dia nem tinha começado
E quantas palavras estavam entre o chão e a mesa?
E quantos futuros foram perdidos no passado...?

Eu me lembro quando minhas asas eram exuberantes
Quando meus mergulhos atravessavam os oceanos
Eu me lembro quando as lágrimas eram apenas chuvas distantes
Quando eu apenas era um herói da coleção das revistas em quadrinhos...

Hoje a cidade vive entre o caos e a esperança de ser erguida
Hoje eu leio o jornal acompanhado da preguiça e da vida que tem de ser vivida
As ruas viram um grande mosaico de notórios anônimos
E todos se conhecem em redes interligadas de sonhos e sentimentos...

E eu olharia mais uma vez
Mas à noite nem tinha começado
E quantas palavras estavam entre o sussurro e o desejo?
E quantas estações vão desejar o inverno outra vez...?

Muitos nem percebem as nuvens que brincam de ser objetos
Muitos nem percebem que vivem aglomerados em desertos
Mas nem tudo é loucura e caos entre a terra e o céu
Existe a poesia, o vinho e os tangos de Gardel...

Nós nos olharíamos mais uma vez
Mas a vida nem tinha começado
E quantas palavras são ditas num beijo?
E quantas voltas o mundo dá antes que se deseje...?


MAURO ROCHA 15/04/2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

SUAVE BRISA

Pobre diabo que não se vê no espelho
Crivado de amor e de desespero
Mas será amor puro de sentimentos e medo?
Ou será a alta temperatura da libido no tesão do desejo?

Pobre diabo de olhos vermelhos
Que anda na cidade nu de segredos
Que anda em sua corda bamba e sem freios

Pobre diabo que não se vê no espelho
Anda sozinho na noite com a lua por testemunha
Anda sozinho no dia com o sol sem sombra

Pobre diabo de olhos vermelhos
Não sabe se é amor ou atração
Não sabe se é desejo ou paixão

Em sua mão direita uma estaca
Em sua mão esquerda seu coração...


...Pobre diabo...

MAURO ROCHA 28/04/2010



quinta-feira, 6 de maio de 2010

ÓPIO

Andando pela tempestade de meus olhos
Cansado, há dias não durmo
Vou mergulhar em tudo...

Vou escrever o livro entre o pão e o vinho
Vou plantar a árvore no quintal vizinho
Vou fazer o filho no meio do caminho...

Andando pelo deserto de meus olhos
Calado, há dias não durmo
Vou jogar tudo...

À noite maquiada muda à face da lua
A rua desordenada continua nua
Os mesmos olhos perdidos a mesma boca muda...

As épocas são cíclicas
Minhas mãos são ríspidas
Minhas lágrimas são limpas...

E tudo faz parte de um jogo
As cinco é servido chá com biscoito
Prefiro suco espesso extraído do fruto imaturo...

Hoje cheguei perto, bem perto de você
Olhei para teus olhos mas não pude ver
Olhei para a cidade e me perdi na tempestade...

Segui o caminho de paralelepípedos
Segui bêbados e mal-trapinhos
Olhei para a cidade e me perdi em seus desertos...

Cheguei no castelo de areia
Abri a porta e não havia anjos nem sereia
Minha mão estava fria...

Minha casa está no escuro
Estou cansado e há noites não durmo
Meus olhos tempestade, meu corpo deserto...

Ando pela cidade
Ando sem identidade
Ando com saudade...

MAURO ROCHA 30/04/2010